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Verificação de Pegada de Carbono: O Guia Definitivo para PMEs

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Num mercado cada vez mais consciente do impacto ambiental, a verificação da pegada de carbono tornou-se um aspeto chave para as Pequenas e Médias Empresas (PMEs). Mais do que uma obrigação regulamentar, trata-se de uma oportunidade estratégica para melhorar a eficiência operacional, reduzir custos e fortalecer a imagem da marca perante consumidores e investidores cada vez mais exigentes.

Este guia oferece um roteiro prático para as PMEs que pretendem implementar processos de verificação de pegada de carbono credíveis e reconhecidos pelo mercado, alinhados com a norma ISO14064-3:2019.

O que é a verificação da Pegada de Carbono?

A verificação da pegada de carbono é um processo independente que valida se o cálculo das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) da sua empresa foi realizado de forma precisa e fiável, de acordo com as metodologias e normas internacionais reconhecidas.

Esta verificação é realizada por entidades externas certificadas que avaliam não apenas os números finais, mas todo o processo de recolha de dados, metodologias de cálculo, organização documental e procedimentos de monitorização implementados pela empresa.

Porque é que é importante PMEs?

Benefícios estratégicos e comerciais

  • Vantagem competitiva: Diferenciação num mercado onde os consumidores valorizam cada vez mais as práticas sustentáveis
  • Acesso a novos mercados: Cumprimento de requisitos para participação em concursos públicos e cadeias de abastecimento de grandes empresas
  • Redução de custos: Identificação de oportunidades de eficiência energética e operacional
  • Acesso a financiamento: Critérios ESG são cada vez mais valorizados por investidores e instituições financeiras

Conformidade regulamentar

  • Antecipação a regulamentos cada vez mais exigentes no contexto do Pacto Ecológico Europeu
  • Preparação para futuros requisitos de divulgação não financeira que estão a ser alargados a empresas de menor dimensão

Preparação para a verificação externa: passos fundamentais

1. Avaliação da maturidade dos sistemas internos

Antes de avançar para a verificação externa, avalie se a sua empresa tem os sistemas fundamentais implementados:

  • Sistema de monitorização estabelecido: Processos regulares de recolha e registo de dados
  • Metodologias definidas: Critérios claros para cálculo de emissões, devidamente documentados, explicados e justificados
  • Critérios e limites de materialidade definidos: Identificação de fontes relevantes com base em volume, controlo e risco
  • Responsabilidades atribuídas: Colaboradores designados e capacitados para a gestão de dados de carbono
  • Histórico de dados: Pelo menos um ano completo de dados consistentes, auditáveis e com rastreabilidade garantida.
  • Ano base documentado: Definição clara do ano base e regras para a sua revisão em caso de alterações significativas.

Ponto crítico: A empresa deve declarar que critério está a seguir para o inventário (GHG Protocol ou ISO14064-1:2018.

2. Testes de consistência e completude

Realize uma auditoria interna rigorosa antes da verificação externa:

  • Análise temporal: Comparar dados entre diferentes períodos para identificar variações anómalas.
  • Verificação cruzada: Confronto entre diferentes fontes de informação (faturas, medições, relatórios técnicos).
  • Benchmarking setorial: Comprar com referências ou médias do setor de atividade.
  • Testes de sensibilidade: Avaliar o impacto de diferentes pressupostos nos resultados finais.
  • Análise de incerteza: Identificar fontes de incerteza e adoptar uma abordagem conservadora.

Recurso disponível: O “Guia de Gestão Documental para Gestão de Carbono” oferece dicas práticas e templates para organizar eficazmente toda a documentação de suporte

3. Preparação da equipa e processos internos

Garanta que a sua organização está preparada para o processo de verificação:

  • Designação de responsável principal: Pessoa com conhecimento transversal do inventário.
  • Formação interna: Sensibilização sobre o que esperar durante a verificação.
  • Simulações internas: Entrevistas-teste e revisões para identificar lacunas.
  • Preparação documental: Criar trilhas de dados completas, da origem aos resultados (e vice-versa).

Recomendação prática: Realize uma “pré-verificação” interna com apoio de consultores experientes, para identificar e corrigir problemas antes do processo formal.

4. Planeamento temporal e logístico

Organize todos os aspetos práticos com antecedência suficiente:

  • Cronograma realista: Reservar de 2 a 3 meses entre o contacto inicial e a entrega do parecer.
  • Disponibilidade da equipa: Garantir presença de pessoas-chave durante o processo.
  • Acesso às instalações: Planear as visitas técnicas e identificar os pontos a mostrar
  • Sistema de backup: Prevenir falhas tecnológicas ou perda de dados.

Aspeto fundamental: Um planeamento logístico cuidadoso demonstra profissionalismo e facilita significativamente o trabalho do verificador.

Como garantir uma verificação externa bem-sucedida

1. Seleção criteriosa do verificador

A seleção da entidade verificadora é determinante:

  • Acreditações reconhecidas: Verificadores acreditados por organismos reconhecidos
  • Experiência setorial: Conhecimento do seu ramo de atividade e familiaridade com os processos e emissões do seu setor.
  • Histórico de verificações: Casos de sucesso anteriores
  • Compatibilidade metodológica: Alinhamento com ISO 14064 ou GHG Protocol

Verificadores acreditados em Portugal incluem:

2. Entrega estruturada da documentação

  • Delcaração de emissões (GHG Statement): Objetiva, verificável e com âmbito, metodologia e dados definidos.
  • Metodologia de cálculo: Detalhe de pressupostos, fatores, modelos e fontes.
  • Evidências primárias e secundárias: Com rastreabilidade clara
  • Controlo de versões: Todos os documentos com versão e data

Dica importante: Um dossier estruturado reduz a necessidade de iterações e pedidos adicionais.

3. Processo de verificação

O processo típico inclui:

  • Reunião de abertura: Compreensão do âmbito, sistema e limites do inventário.
  • Revisão documental: Avaliação da qualidade e completude da informação.
  • Visitas técnicas e entrevistas: Observação de processos e conversa com operadores.
  • Amostragem e testes: O verificador escolhe amostras com base em risco e materialidade.

4. Resposta a não-conformidades

Aspeto frequentemente subestimado, mas crucial:

  • Responder de forma transparente e colaborativa
  • Criar plano de ação corretiva com prazos
  • Rever e melhorar os sistemas internos

Nota importante: As não-conformidades são comuns nas primeiras verificações. O verificador avalia não apenas os problemas identificados, mas também a capacidade da empresa em corrigi-los adequadamente.

5. Declaração de verificação

O resultado final será uma declaração formal que:

  • Confirma a veracidade e conformidade da informação
  • Especifica o nível de garantia fornecido (limitada ou razoável)
  • Identifica o âmbito da verificação, critérios e normas utilizadas

Erros comuns a evitar

  1. Início tardio do processo: Contactar verificadores com prazos apertados
  2. Informação dispersa: Falta de sistema de gestão documental
  3. Falta de rastreabilidade: Ausência de trilha entre dados brutos e resultados
  4. Subestimação de recursos e tempo: Especialmente numa primeira verificação
  5. Equipa mal preparada: Ausência de formação ou ensaios internos.

Conclusão

A verificação da pegada de carbono representa um investimento estratégico para as PMEs que pretendem prosperar num contexto económico cada vez mais orientado para a sustentabilidade. Mais do que um exercício de conformidade, trata-se de uma oportunidade para inovar, reduzir custos e fortalecer o posicionamento no mercado.

Seguindo os passos e recomendações deste guia, a sua empresa estará bem preparada para enfrentar com sucesso o processo de verificação externa, obtendo um selo de credibilidade que será cada vez mais valorizado por clientes, parceiros e investidores.

Perguntas Frequentes

Atualmente, não existe obrigatoriedade generalizada, mas determinados setores e empresas acima de certos limiares já enfrentam requisitos de reporte. Além disso, a tendência regulamentar europeia é de alargamento progressivo destas obrigações.

Recomenda-se uma periodicidade anual, alinha com o ciclo de reporte de carbono da empresa.

Sim, muitas consultoras oferecem serviços de “verificação interna” ou “pré-verificação”. Esta etapa é crítica para o sucesso da verificação oficial, reduzindo custos, tempo e risco de não-conformidades.


Este artigo foi elaborado com base nas normas ISO 14064-1:2018, ISO 14064-3:2019 e o GHG Protocol, adaptadas à realidade das PMEs. A autora possui certificação como verificadora de emissões de gases com efeito de estufa (GEE), trazendo experiência prática e conhecimento especializado sobre os processos de verificação e as necessidades específicas das empresas neste domínio. Para aconselhamento personalizado, não hesite em contactar.

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