Redução de emissões vs. compensação: o que priorizar

Uma das perguntas que surge frequentemente é: “É melhor reduzir as nossas emissões ou podemos simplesmente compensá-las?”. Esta é uma dúvida legítima, especialmente para empresas que estão a dar os primeiros passos na gestão da sua pegada de carbono e se deparam com recursos limitados.
Neste artigo, vou abordar esta questão, explicando as diferenças entre redução e compensação, as vantagens e limitações de cada abordagem, e o que realmente faz sentido priorizar para uma PME portuguesa.
Redução vs. Compensação: entender os conceitos
Antes de mais, vamos clarificar os conceitos:
Redução de emissões envolve medidas diretas para diminuir a quantidade de gases com efeito de estufa (GEE) que a sua empresa emite. Exemplos incluem melhorar a eficiência energética, mudar para fontes de energia renovável, otimizar rotas logísticas ou redesenhar produtos para menor impacto ambiental.
Compensação de emissões (ou offsetting) consiste em financiar projetos externos que removem ou evitam emissões de GEE noutros locais, “compensando” assim as emissões da sua empresa. Isso pode incluir projetos de reflorestação, energia renovável em comunidades desfavorecidas ou tecnologias de captura de carbono.
Uma forma de financiar projetos de compensação é através da compra de créditos de carbono em mercados voluntários. Saiba aqui mais sobre o mercado de carbono voluntário português.
Por que esta questão importa agora?
Com o aumento das exigências regulatórias e de mercado, muitas PMEs sentem-se pressionadas a agir rapidamente. A compensação aparenta ser uma solução rápida — basta um pagamento e a empresa pode declarar-se “neutra em carbono”, certo?
Mas será esta a abordagem mais eficaz e responsável? Vamos analisar.
Os prós e contras de cada abordagem
Redução de Emissões
Vantagens:
- Benefícios económicos diretos: A maioria das medidas de redução de emissões também reduz custos operacionais a médio/longo prazo.
- Resiliência empresarial: Preparar a empresa para um futuro de baixo carbono e para regulamentações mais rigorosas.
- Credibilidade: Demonstra compromisso real com a sustentabilidade, evitando acusações de greenwashing.
- Inovação: Estimula a criação de processos e produtos mais eficientes e sustentáveis.
Desafios:
- Investimento inicial: Algumas medidas requerem investimento significativo antes de gerarem retorno.
- Complexidade técnica: Pode exigir conhecimentos especializados ou consultoria externa.
- Limitações práticas: Algumas emissões são difíceis de eliminar com a tecnologia atual.
Compensação de Emissões
Vantagens:
- Rapidez: Pode ser implementada imediatamente, sem mudanças operacionais.
- Flexibilidade: Aplicável a todas as fontes de emissões, incluindo as difíceis de reduzir.
- Benefícios sociais: Muitos projetos de compensação geram co-benefícios como empregos locais ou proteção da biodiversidade.
Desafios:
- Custos recorrentes: Representam uma despesa contínua sem retorno financeiro direto.
- Riscos de reputação: Se mal implementada, pode ser vista como greenwashing.
- Qualidade variável: Nem todos os projetos de compensação oferecem o mesmo nível de garantia.
- Não aborda a causa raiz: A empresa continua a emitir GEE.

A hierarquia de mitigação: um modelo para decisão
A abordagem mais robusta segue o que chamamos de “hierarquia de mitigação climática”:
- Evitar – Eliminar atividades que geram emissões desnecessárias
- Reduzir – Minimizar emissões das atividades essenciais
- Substituir – Trocar tecnologias/materiais por alternativas de baixo carbono
- Compensar – Apenas para emissões residuais que não podem ser eliminadas
Este modelo esclarece que a compensação deve ser vista como o último recurso, não como a primeira opção.

Por que a redução deve ser prioritária para PMEs?
Para a maioria das PMEs, concentrar os esforços iniciais na redução de emissões oferece múltiplas vantagens:
1. Retorno sobre investimento
Muitas iniciativas de redução têm períodos de retorno atraentes. Por exemplo:
- Substituição de iluminação por LED: retorno em 6-12 meses
- Otimização de sistemas de climatização: retorno em 1-3 anos
- Instalação de painéis solares: retorno em 5-8 anos (com tendência a diminuir)
Um estudo da Carbon Trust indica que PMEs podem reduzir custos energéticos em 20-30% com medidas de eficiência, muitas com retorno inferior a 2 anos.
2. Vantagem competitiva sustentável
Enquanto a compensação é facilmente replicável pelos concorrentes (basta comprar mais créditos), a redução de emissões frequentemente envolve inovações em processos e produtos que criam diferenciação de mercado duradoura.
3. Preparação para regulamentações futuras
Com o avanço da regulamentação climática na UE, incluindo requisitos de reporting que em breve afetarão indiretamente as PMEs através das suas cadeias de valor, investir hoje em redução de emissões é uma forma de gestão de risco.
4. Credibilidade junto a stakeholders
Clientes, investidores e colaboradores estão cada vez mais atentos ao greenwashing. Empresas que demonstram esforços concretos de redução antes de recorrer à compensação constroem maior credibilidade.
Quando a compensação faz sentido?
A compensação tem sim o seu lugar numa estratégia climática bem estruturada, especialmente:
- Para emissões inevitáveis com a tecnologia atual (ex: certos processos industriais)
- Como complemento a um plano robusto de redução
- Como medida temporária enquanto implementa mudanças estruturais
- Para demonstrar compromisso com a neutralidade climática no curto prazo
Como estruturar uma estratégia equilibrada
Para PMEs que querem uma abordagem pragmática, sugiro:
Fase 1: Foco em redução (anos 1-3)
- Realizar inventário básico da pegada de carbono
- Identificar “quick wins” com bom retorno financeiro
- Implementar medidas de baixo investimento/alto impacto
- Definir metas de redução realistas (15-30%)
Fase 2: Estratégia integrada (anos 3+)
- Continuar investimentos em redução para emissões materiais
- Desenvolver plano de transição de longo prazo
- Introduzir compensação apenas para emissões difíceis de eliminar
- Comunicar com transparência esforços de redução e compensação
Conclusão: A compensação não substitui a redução
A mensagem principal é: a compensação de carbono tem o seu lugar numa estratégia climática empresarial, mas não deve ser vista como alternativa à redução de emissões. Para PMEs com recursos limitados, priorizar esforços de redução geralmente oferece melhores resultados económicos, ambientais e reputacionais.
A verdadeira liderança em sustentabilidade não está em declarar-se “neutra em carbono” através da compra de créditos, mas em transformar o modelo de negócio para operar com menor impacto climático. É este o caminho que recomendo às PMEs portuguesas que querem estar na vanguarda da transição para uma economia de baixo carbono.
Dúvidas sobre como equilibrar redução e compensação no seu contexto específico? Deixe um comentário abaixo ou entre em contacto.
Este artigo faz parte da nossa série sobre gestão da pegada de carbono para PMEs. Para mais informações, consulte nossos artigos anteriores sobre como estabelecer metas de redução alcançáveis e A pressão dos clientes e o novo papel da PME na transição climática.
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