Pegada de carbono: o que é e porque deve importar à sua PME
Sabia que até os pequenos negócios têm impacto no clima?

Qualquer empresa, mesmo que com meia dúzia de colaboradores, que opera localmente e com recursos limitados, contribui – ainda que indiretamente – para as alterações climáticas. Desde o consumo de eletricidade no escritório até ao transporte de mercadorias, tudo conta.
A consciência ambiental aumentou nos último anos, e com ela, a exigência dos clientes, dos investidores e até das grandes empresas que compram produtos e serviços às PMEs. Cada vez mais é pedido às pequenas e médias empresas que demonstrem o seu compromisso com a sustentabilidade, nomeadamente através da medição e da redução das suas emissões de gases com efeito de estufa.
Mas eu tenho uma boa notícia, medir a pegada de carbono não tem de ser vista apenas como uma obrigação. Deve ser encarada como uma oportunidade para reduzir custos, melhorar processos e ganhar vantagem competitiva num mercado em rápida transformação.
Neste artigo, explico o que é a pegada de carbono e porque é que a sua medição é um passo essencial para qualquer PME que queira manter-se relevante, resiliente e preparada para o futuro.
1. O que é a pegada de carbono?

A pegada de carbono é um indicador de impacto climático que mede a quantidade total de emissões de gases com efeito de estufa associadas às atividades de uma empresa.
Várias são as fontes de onde podem provir estas emissões:
- Do consumo de eletricidade no escritório ou na fábrica;
- Dos transportes utilizados para distribuição de produtos ou deslocação dos colaboradores;
- Da aquisição de matérias-primas compradas aos fornecedores;
- Ou até dos resíduos gerados nas atividades da empresa.
Os gases com efeito de estufa – como o dióxido de carbono (CO₂), o metano (CH4) ou o óxido nitroso (N2O) – funcionam como camadas de um casaco de inverno que vamos vestindo ao planeta. Uma camada aquece, duas aquecem mais, e com muitas, o planeta começa a “suar”.
A pegada de carbono mede o total dessas camadas, convertendo tudo para CO2e, para percebermos o quão abafado está o nosso planeta, ou, neste caso, quanto a sua empresa contribui para este abafo.
2. Porque é que as PMEs devem preocupar-se com isso?
Até há pouco tempo o tema da pegada de carbono era um jargão e reservado às grandes empresas, a realidade hoje em dia é outra. As pequenas e médias empresas estão cada vez mais no centro da transição climática e são chamadas a responder pelos seus impactes — não por obrigação legal, mas porque o mercado está a mudar rapidamente.

Pressão de clientes e grandes empresas
As grandes empresas estão cada vez mais a comprometer-se com metas climáticas, e passaram recentemente, no âmbito de regulamentação europeia (CSRD e Taxonomia EU) a serem obrigadas a reportar o seu impacto, riscos e metas, e para tal, precisam de conhecer o impacto dos seus fornecedores. Isto significa que começam a pedir às PMEs dados sobre as suas emissões ou ações concretas de redução.
Por exemplo, no setor do retalho alimentar, cadeias como o Continente ou o Lidl já trabalham com os seus fornecedores, não só para aferir as suas pegadas de carbono mas também para ajudar a definir metas climáticas. Se a sua PME quiser continuar a vender a estas empresas, precisa de estar preparada.
Acesso a financiamento e incentivos
Cada vez mais programas de financiamento — públicos e privados — valorizam ou exigem a medição da pegada de carbono. Quem já tem estes dados organizados, parte em vantagem.
Um bom exemplo é o Portugal 2030, que tem exigido o cumprimento do princípio “não prejudicar significativamente”, que prevê que os projetos a financiamento não aumentem significativamente as suas emissões, cumprindo os critérios técnicos da Taxonomia Europeia. Os próprios apoios para a descarbonização de processos produtivos, como os promovidos pelo PRR solicitam avaliação de pegadas de carbono, sendo que empresas com avaliação prévia do seu impacto conseguem candidatar-se com maior eficácia e foco.
Redução de custos operacionais
Outra vantagem é que conhecer a pegada de carbono ajuda também a identificar os desperdícios de energia, transporte ou materiais. E menos desperdício significa menos custo.
Por exemplo, uma PME percebeu, ao medir a sua pegada, que uma máquina antiga consumia quase o dobro da energia de outras semelhantes. A substituição do equipamento reduziu as emissões — e a fatura elétrica.
Imagem de marca e diferenciação
Os consumidores estão mais atentos ao impacto das suas escolhas. Mesmo num negócio local, como uma padaria ou um alojamento local, comunicar ações climáticas pode ser um fator de decisão.
A sustentabilidade já não é um extra — é um critério de seleção.
3. Mas… isto aplica-se mesmo a mim?
Até há pouco tempo considerava-se que a pegada de carbono era um tema demasiado complexo ou caro para uma pequena empresa. Mas essa ideia está a mudar — e por bons motivos. A medição de emissões já não é exclusiva de grandes grupos empresariais. É cada vez mais acessível e relevante para negócios de todas as dimensões.
Setores como o turismo, a indústria transformadora e o comércio estão entre os mais pressionados a demonstrar responsabilidade ambiental. Um alojamento que se queira destacar no Booking ou Airbnb, uma fábrica que forneça componentes a uma empresa maior, ou uma loja que venda produtos certificados… todos estes negócios estão a ser chamados a mostrar números e compromissos.
Para dar um exemplo prático: uma pequena empresa de embalagens reutilizáveis, com apenas cinco pessoas, começou recentemente a medir a sua pegada de carbono. Usou uma ferramenta simples em Excel, com apoio de consultoria pontual, e descobriu que os transportes representavam quase metade das suas emissões. Com essa informação, ajustou rotas e passou a usar uma transportadora com frota elétrica em parte das entregas. Resultado: reduziu emissões e também custos logísticos.
Medir a pegada de carbono não precisa de custar milhares de euros, nem exige software sofisticado. Com a orientação certa, é possível começar com os dados que já existem: faturas de eletricidade, quilómetros percorridos, compras de materiais. É um primeiro passo que qualquer PME pode dar — e que já faz a diferença.

4. O primeiro passo: medir
O que não se mede, não se pode melhorar
William Edwards Deming
Não se pode reduzir o que não se conhece. É por isso que medir a pegada de carbono é o primeiro passo — e talvez o mais importante — de qualquer jornada climática. Só com dados concretos é possível identificar onde estão os maiores impactos e onde faz mais sentido agir.
A boa notícia é que este passo inicial está ao alcance da maioria das PMEs. Já existem ferramentas simples que permitem fazer estimativas com base em consumos e faturas. Além disso, há cada vez mais consultores especializados em trabalhar com micro e pequenas empresas, oferecendo serviços ajustados à realidade e ao orçamento disponível.
Em Portugal, também existem programas de apoio e incentivos que podem financiar diagnósticos energéticos ou planos de descarbonização. Estar preparado com dados sobre emissões pode abrir portas a oportunidades de financiamento que, de outra forma, ficariam fora de alcance.
No próximo artigo, vou mostrar como pode começar a medir e reduzir emissões mesmo sem orçamento, com dicas práticas e recursos gratuitos. Porque o mais importante é dar o primeiro passo — e esse passo começa por conhecer o seu impacto.
Conclusão
A pegada de carbono pode parecer um conceito distante para muitos pequenos negócios, mas é, na verdade, uma ferramenta poderosa para entender e melhorar o impacto da empresa no planeta — e nos resultados.
Medir as emissões é o primeiro passo para responder às exigências do mercado, reduzir custos e preparar a PME para um futuro mais sustentável e competitivo. E como vimos, esse passo já está ao alcance de qualquer empresa, independentemente da sua dimensão ou setor.
Não é preciso ser grande para fazer a diferença. Basta vontade de agir e informação para começar com confiança.