Guia Básico para iniciar o cálculo da pegada de carbono na sua PME

Como proprietário ou gestor de uma pequena ou média empresa (PME), pode estar a sentir uma pressão crescente para abordar questões de sustentabilidade, particularmente em relação às emissões de carbono. Seja devido a requisitos de clientes, vantagem competitiva ou genuína preocupação ambiental, calcular a pegada de carbono da sua empresa tornou-se cada vez mais importante.

Mas por onde começar? Este guia prático irá conduzi-lo pelos primeiros passos para calcular a pegada de carbono da sua PME, sem necessidade de conhecimentos técnicos avançados ou investimentos significativos.

O que é exatamente a pegada de carbono?

Antes de avançarmos, vamos esclarecer o conceito. A pegada de carbono de uma empresa representa a quantidade total de gases com efeito de estufa (GEE) emitidos direta e indiretamente pelas suas operações, geralmente expressa em toneladas de CO₂ equivalente (tCO₂e).

Estas emissões são tipicamente categorizadas em três “âmbitos”:

• Âmbito 1: Emissões diretas das atividades da empresa (ex: combustíveis queimados nas instalações, veículos da empresa)
• Âmbito 2: Emissões indiretas da energia comprada (ex: eletricidade, aquecimento)
• Âmbito 3: Todas as outras emissões indiretas ao longo da cadeia de valor (ex: deslocações de colaboradores, transporte de mercadorias, uso de produtos)

5 Passos para Iniciar o Cálculo da sua Pegada de Carbono

1. Defina os limites organizacionais

Comece por identificar claramente as atividades e operações que serão incluídas no cálculo. Para PMEs, geralmente recomenda-se:

• Incluir todas as instalações sobre as quais tem controlo operacional
• Definir um período de tempo claro (geralmente um ano civil)
• Decidir quais âmbitos serão cobertos (inicialmente, focar nos âmbitos 1 e 2 é mais simples)

Dica prática: Desenhe um mapa simples das suas operações, identificando as diferentes atividades da empresa e quais geram emissões de GEE.

2. Recolha de dados de atividade

O próximo passo é reunir informações sobre as atividades que geram emissões. Para uma PME típica, os dados essenciais incluem:

Âmbito 1:

• Consumo de combustível para veículos da empresa (litros de gasolina/diesel)
• Consumo de gás natural ou outros combustíveis para aquecimento (m³ ou kWh)
• Fugas de gases refrigerantes de sistemas de ar condicionado (kg)

Âmbito 2:

• Consumo de eletricidade (kWh)
• Consumo de energia para aquecimento/arrefecimento da rede (kWh)

Dica prática: Comece por recolher faturas de eletricidade, gás e combustíveis do último ano. Este é geralmente o ponto de partida mais acessível.

3. Aplique fatores de emissão adequados

Para converter os dados de atividade em emissões de GEE, precisará de aplicar fatores de emissão. Estes são valores que convertem unidades de atividade (como kWh de eletricidade) em equivalentes de CO₂.

Existem várias fontes gratuitas para estes fatores:

• Dados da Agência Portuguesa do Ambiente
• GHG Protocol (ferramenta gratuita online)
• Fatores específicos dos seus fornecedores de energia

Dica prática: Para Portugal, use os fatores de emissão específicos do país sempre que possível, pois refletem melhor o mix energético nacional.

4. Calcule as emissões

O cálculo básico para cada fonte de emissão é:

Dados de atividade × Fator de emissão = Emissões de GEE (tCO₂e)

Por exemplo:

• 10.000 kWh de eletricidade × 0,256 kgCO₂e/kWh = 2.560 kgCO₂e ou 2,56 tCO₂e

Some todas as fontes de emissão para obter o total.

Dica prática: Uma folha de cálculo simples é suficiente para começar. Crie uma tabela com colunas para a fonte de emissão, quantidade, unidade, fator de emissão e emissões totais.

5. Analise e interprete os resultados

Após calcular as emissões, é crucial analisar os resultados para identificar:

• Principais fontes de emissões (“hotspots“)
• Oportunidades de redução imediatas
• Áreas que necessitam de melhor monitorização

Compare as emissões por unidade de faturação ou por colaborador para obter métricas relativas que possam ser acompanhadas ao longo do tempo.

Dica prática: Crie um gráfico circular mostrando a proporção de emissões por fonte ou atividade. Isto ajudará a visualizar onde estão as maiores oportunidades.

Ferramentas Gratuitas para PMEs

Para facilitar este processo, existem várias ferramentas gratuitas disponíveis:

1. SME Climate Hub Calculator: Ferramenta simples e específica para PMEs
2. GHG Protocol SME Tool: Folha de cálculo gratuita com fatores de emissão incorporados
3. carbonfootprint.com Calculator: Interface intuitiva para cálculos básicos

Estas ferramentas oferecem uma abordagem estruturada e já incluem muitos dos fatores de emissão necessários.

Erros Comuns a Evitar

• Dupla contagem: Certifique-se de que não está a contar a mesma emissão duas vezes
• Ignorar dados incompletos: Indique claramente o que não foi possível medir
• Tentar ser demasiado abrangente: É melhor um cálculo mais limitado mas rigoroso do que um muito abrangente mas impreciso

Próximos Passos

Após concluir este primeiro cálculo básico:

1. Estabeleça uma linha de base: Este primeiro cálculo será a referência para medir o progresso futuro
2. Identifique medidas de redução: Use os resultados para definir áreas prioritárias
3. Comunique internamente: Partilhe os resultados com a equipa para aumentar a consciencialização
4. Planeie a expansão gradual: Nos próximos ciclos, considere incluir mais fontes de emissão do âmbito 3

Conclusão

Iniciar o cálculo da pegada de carbono na sua PME não precisa de ser um processo complexo ou dispendioso. Começar com uma abordagem simples e focada nos âmbitos 1 e 2 já proporciona informações valiosas e demonstra o compromisso da sua empresa com a sustentabilidade.

Lembre-se que o mais importante não é alcançar a perfeição no primeiro cálculo, mas sim começar o processo e melhorá-lo gradualmente ao longo do tempo.

Está preparado para calcular a pegada de carbono da sua empresa? Aceda à nossa ferramenta gratuita de autoavaliação para descobrir!