Global Circularity Protocol: O novo padrão global para medir e comunicar a circularidade nas empresas

A economia circular deixou de ser uma aspiração distante para se tornar uma prioridade estratégica nas agendas corporativas. Contudo, a ausência de uma linguagem comum e de métricas harmonizadas tem dificultado a comparação, o investimento e a aceleração desta transição à escala global.
É precisamente essa lacuna que o Global Circularity Protocol for Business (GCP) vem preencher.
Publicado em novembro de 2025 pela World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e pela One Planet Network (hospedada pela UNEP), o GCP v1.0 representa um marco histórico: o primeiro framework global e voluntário que oferece às organizações uma abordagem padronizada para medir, gerir e comunicar o seu desempenho circular e respetivos impactos.
Para quem é este protocolo?
O GCP foi desenhado para organizações de todos os tamanhos, setores e geografias — desde multinacionais a PMEs, independentemente da sua maturidade em circularidade.
Seja uma empresa que está a dar os primeiros passos na economia circular, seja uma organização avançada que procura reportar de forma credível aos seus stakeholders, o GCP oferece orientações flexíveis e modulares adaptadas a diferentes contextos e capacidades.
Os destinatários incluem:
Os benefícios são claros (e quantificáveis)
O GCP não é apenas mais um framework. A análise de impacto publicada pela WBCSD e OPN demonstra o potencial transformador da sua adoção generalizada:
Mas há mais benefícios práticos e imediatos para as organizações:
Como funciona: a jornada em 5 etapas
O GCP propõe uma abordagem estruturada mas flexível, organizada em cinco estágios que orientam as organizações desde a definição de objetivos até à comunicação externa:

Uma abordagem progressiva e inclusiva
O GCP reconhece que as organizações partem de pontos de maturidade diferentes. Por isso, propõe três níveis de utilização progressivos:
Nível 1 – Iniciação
Organizações que começam a medir desempenho circular, focando-se em fluxos materiais sob controlo direto e em pelo menos 1 métrica core.
Nível 2 – Expansão
Organizações que ampliam o âmbito, incluem stakeholders na definição de IROs e adotam todas as métricas core.
Nível 3 – Consolidação
Organizações com dados robustos ao longo da cadeia de valor, que incluem fluxos sob controlo indireto e métricas de impacto.
Esta flexibilidade permite começar pequeno (num produto, num material) e escalar progressivamente até ao reporte organizacional completo.
Interoperabilidade: o GCP não substitui, complementa
Um dos pontos fortes do GCP é a sua interoperabilidade com frameworks já estabelecidos:
- GRI (Global Reporting Initiative)
- ESRS (European Sustainability Reporting Standards)
- IFRS S1/S2 (International Financial Reporting Standards)
- TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosures)
- GHG Protocol
- ISO 59020 e ISO 59004
Isto significa que as organizações podem usar o GCP para gerar dados consistentes que alimentam múltiplos canais de reporte, reduzindo duplicação de esforços e aumentando a consistência entre diferentes obrigações de divulgação.
Governação credível e multi-stakeholder
O desenvolvimento do GCP envolveu mais de 80 organizações e 150+ especialistas de empresas, academia, think tanks, ONGs e governos, garantindo rigor científico e aplicabilidade prática.
Três comités de aconselhamento (Business, Policy e Scientific Advisory Committees) asseguraram independência e credibilidade técnica ao longo de um processo iterativo de dois anos.
O que vem a seguir?
O GCP v1.0 é um ponto de partida, não uma linha de chegada. Futuras iterações irão expandir o âmbito e aprofundar metodologias, incluindo:
- Framework de políticas públicas para circularidade
- Metodologia de Science-Based Targets para circularidade
- Módulo “Clean the Loop” focado em poluição e toxicidade
- Indicadores financeiros adicionais para investidores
- Orientações setoriais específicas
- Ferramentas digitais e bases de dados de benchmarking
A WBCSD e a One Planet Network convidam todas as organizações a testar o protocolo, partilhar feedback e contribuir para o seu refinamento, garantindo que evolui de forma relevante, prática e globalmente aplicável.
Conclusão: a mudança sistémica começa com linguagem comum
Tal como o GHG Protocol se tornou a referência global para contabilização de emissões de carbono, o GCP tem a ambição de se tornar o padrão de referência para medir e comunicar desempenho circular.
Numa altura em que a extração e processamento de materiais representam mais de 55% das emissões globais de GEE e mais de 90% dos impactos em biodiversidade e stress hídrico, a transição para uma economia circular já não é opcional.
É uma questão de competitividade, resiliência e responsabilidade.
O GCP oferece às organizações as ferramentas para transformar ambição em ação, circularidade em valor mensurável, e dados fragmentados em inteligência estratégica.
A economia circular precisa de uma linguagem comum. Essa linguagem chegou.
Recursos úteis:
- Página oficial do GCP
- Download do GCP v1.0
- GCP Impact Analysis (análise de potencial de impacto)
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